Prazer, meu nome é Alberto Marcondes, gostaria de fazer uma rápida entrevista com vocês para postar no nosso blog.
ALBERTO MARCONDES - Vamos começar pelas influências, como foi que vocês pararam e pensaram,
é na música que eu vou me encontrar?
CADILLAC 77 - Fala Alberto, espero que tenha curtido o nosso
som.
Eu, Bernardo
(guitarra e voz), e Igor (baixo) já nos conheciamos antes da banda. Somos
amigos desde a adolescência e sempre tivemos influências musicais parecidas.
Cada um de nós chegou a ter outras bandas antes da Cadilac, mas nenhuma que de
fato fizesse o som que realmente curtimos. Então nos juntamos para começar o
projeto e formamos o trio. Deu certo e estamos aí batalhando até
hoje.
ALBERTO MARCONDES - Vocês começaram em 2007, quando a era dos downloads explodiu. Vocês
como banda independente, nessa nova era até onde isso facilitou o trabalho de
vocês e até onde atrapalhou?
CADILLAC 77 - Nós vivemos o início da era do compartilhamento
musical gratuito, toda nossa geração viveu e ainda vive isso. Essa mudança na
cultura e na forma de consumir música mudou toda a cena fonográfica. As bandas
viram na internet a chance de se desprender das gravadoras, do sonho de ter um
material gravado por um grande selo, de precisar se submeter ao crivo dos
empresários. Para nós, os downloas só facilitaram. Temos músicas na internet
disponíveis pra quem curte a banda poder baixar a vontade. Divulgamos com mais
facilidade também, acho que só tivemos vantagens com esse "boom" do
compartilhamento.
ALBERTO MARCONDES - Hoje encontramos várias bandas independentes no circuito. Como vocês
avaliam o cenário independente de agora?
CADILLAC 77 - O
cenário atual é bem diversificado, aberto a novas tendências, estilos. Temos
bandas ótimas! Acho que temos bandas incríveis aqui no Rio, bandas que,
mesmo sem investimento pesado e sem muito apoio, conseguem ter material
infinitamente melhor do que muitos grupos que estão na grande mídia ou no
casting das gravadoras de nome. Falta apenas um pouco mais de união, precisamos
unir mais os personagens da cena, ter um universo mais consolidado. Mas a gente
vê muita gente se esforçando, querendo ajudar. Isso é ótimo.
ALBERTO MARCONDES - Na música Descaso vocês fazem uma ácida critica política. O que vocês
esperam da política daqui pra frente?
CADILLAC 77 - É
difícil acreditar na política, né? É difícil acreditar em políticos. Tentamos
não julgar as pessoas que não conhecemos, mas já fomos tão sacaneados por nosso
representantes que fica difícil acreditar, votar, levantar alguma bandeira ou
tomar algum partido. A gente sempre espera que a situação geral da
política melhore de alguma forma. É difícil, a gente não acredita mais em
quase nada.
ALBERTO MARCONDES - Vocês buscam influência do Punk/ Hard Core dos anos 70 , o nome da
banda de vocês tem algum relacionamento com o Punk 77?
CADILLAC 77 - Tem
sim! Nossa maior influência é de fato o punk, principalmente como ideologia,
forma de pensar. Temos muita influência de diferentes estilos do próprio
rock e até de sons mais diversificados, até por isso não gostamos de carregar
um rótulo em si, mas o punk rock é evidentemente a base da Cadilac. Quando
começamos, éramos bem 77 mesmo, tudo bem cru. Com o tempo fomos adaptando mais
a nossa música, gostamos muito da primeira leva do hard core, alí com os
Dead Kenedys, Black Flag, Misfits, a cena punk do Brasil em geral
também. Temos muita influência de trash metal, tudo isso foi moldando
o nosso trabalho.
ALBERTO MARCONDES - O que o movimento Punk
representa pra vocês? Que mensagens vocês querem mandar através do Punk?
CADILLAC 77 - O
punk é o onde nos identificamos. Sempre batalhamos da nossa forma, escrevendo
letras sobre o que pensamos, sobre o que não gostamos e queremos mudar. Essa
contra-cultura representa isso para nós, essa autonomia de fazer um som sem
precisar de muita coisa, falando sobre o que bem entendemos. O punk rock é meio
que a trilha que a gente usa pra mandar nossa mensagem, mostrar o que
pensamos. 99% do punk é atitude, conceito, forma de pensar. O resto
é visual.
ALBERTO MARCONDES - Como vocês acham que a cultura
pode ser artística e ao mesmo tempo inserida no mercado? Nesse sentido, o
que vocês consideram cultura de qualidade, principalmente no meio musical?
CADILLAC 77 - É
difícil ter qualidade quando se mistura arte e mercado, né. No mercado só tem
espaço o que vende, o que é bom para as empresas. Por isso nós temos um
mainstream tão pobre, com artistas repetitivos, que não se renovam. As grandes
emissoras de rádio e tv não querem apostar no novo, querem garantir o lucro em
cima de nomes conhecidos do público. O único meio atualmente de se ter um
mercado fonográfico forte, com qualidade, bem diversificado e com espaço para
todos, é pela internet. Por lá podemos divulgar com liberdade, fazer a música
chegar a todos, nos organizar e criar nossos próprios eventos,
nossa cena. Ainda não é o ideal, mas é um veículo mais democrático e
que dá certo se bem usado.
ALBERTO MARCONDES - O que vocês buscam através da música?
CADILLAC 77 - A
gente busca passar nosso ponto de vista, nossa ideias, o que a gente pensa. Não
queremos ser os donos da verdade, ninguém precisa concordar, mas queremos que
as pessoas pensem, discutam. Precisamos estar pensando o tempo inteiro! E
queremos claro, nos divertir.
ALBERTO MARCONDES - Na música O Grande Irmão vocês retratam como a sociedade se porta de forma
superficial e fake nos dias de hoje. O que vocês acham que a sociedade mais
precisa se conscientizar hoje em dia?
CADILLAC 77 - "O Grande Irmão" é uma música que
escrevemos baseada no livro 1984, de George Orwell. É uma obra de meados do
século passado, mas que continua atual demais. Nossa sociedade está cada vez
mais midiática, fugaz. As pessoas não pensam mais em qualidade de vida, estão
todas super atarefadas, preocupadas com as muitas câmeras que não deixam
ninguém ter privacidade. Ninguém quer pensar demais, abrir os olhos. É tudo um
grande espetáculo. As pessoas estão cada vez mais inseridas até o pescoço em um
sistema que não permite tempo pra nada. Precisamos pensar nisso, respirar,
dar uma freada.
ALBERTO MARCONDES - O quanto vocês acham que o
movimento punk foi responsável pelas mudanças políticas e culturais?
CADILLAC 77 - Acho que o punk foi muito importante na
construção de uma concepção, uma forma de se pensar a vida, de viver. Nenhuma
outra contra-cultura se organizou tão bem e disse através da música, coisas que
chocaram tanto por serem verdade. Claro que ninguém vive a margem de tudo.
Estamos todos em um único sistema e precisamos saber resistir a ele dentro do
possível. Não dá pra se isolar, mas podemos manter uma postura correta.
Resistir aos desvios de caráter nos tempos de hoje já é bastante punk,
né? A consiência é essa.
ALBERTO MARCONDES - Além da música, de onde mais vocês tiram inspiração para criar?
CADILLAC 77 - Nossa inspiração é totalmente voltada pro
dia-a-dia, pra cidade, pros costumes. A nossa proposta é levantar
questionamentos sobre tudo isso, sobre a política, a cultura, a economia.
Está tudo errado, quer mais inspiração que isso?
ALBERTO MARCONDES - E esse EP de vocês, quando sai? Como foi o processo de criação? Foram
vocês mesmos que produziram?
CADILLAC 77 - Precisamos terminar duas faixas. Nossa
ideia é lançar o EP até dezembro, esse é nosso deadline. Por enquanto, temos
algumas músicas disponíveis no myspace.com/cadilac77. Algumas outras canções estarão
disponíveis em breve. Estamos produzindo o trabalho desde o início do ano,
tudo com esforço, sem patrocínio, sem gravadora. Estamos gravando e mixando no
Estúdio Pardal, onde já fizemos outros trabalhos com nosso amigo Ricardo
Pardal. Estamos contando também com a ajuda dos amigos, e da galera que curte a
Cadilac, na divulgação das músicas e da agenda. Lembrando que dia 06 de outubro
estaremos no Suburbagem. Será um prazer tocar em um evento que fortalece tanto
a cena. Será uma boa oportunidade pra quem ainda não conhece o som da
CADILAC 77. Valeu!
O Suburbagem agradece a atenção
de vocês. Obrigado.
0 comentários:
Postar um comentário